quinta-feira, 1 de março de 2012

Pragmática em gotas

O termo pragmática é derivado do grego pragma, significando coisa, objeto, principalmente no sentido de algo feito ou produzido, sendo que o verbo pracein, significa precisamente agir, fazer. Os romanos traduziram pragma pelo latim res, o termo genérico para coisa, perdendo talvez com isso a conotação do fazer ou agir presente no grego.
A pragmática pressupõe uma concepção segundo a qual o significado é relativo a contextos determinados e deve ser considerado a partir do uso dos termos e expressões lingüísticos utilizados nesses contextos. Isso não equivale ao “vale tudo”, porque o significado não é visto como arbitrário, mas como dependente do contexto. A consideração do uso envolve, portanto, a determinação das regras e condições de uso que caracterizam os contextos específicos em que o significado se constitui. Afirmar que o significado é “relativo ao contexto” não é o mesmo que afirmar o “relativismo” semântico, cognitivo, ou ético, se “relativismo” significa que todas as posições se equivalem e são igualmente válidas, ou a tese de Humpty Dumpty segundo a qual podemos significar o que quisermos. Ao contrário, a consideração de regras, convenções e condições de uso, exclui a arbitrariedade, explicitando o processo de constituição e de alteração do significado de uma palavra ou expressão lingüística.

A fronteira entre a semântica e a pragmática é normalmente traçada a partir da noção de contexto. As significações lingüísticas a priori independem do contexto, enquanto as significações pragmáticas emergem do contexto (cf. Moura, 2000).
Para a semântica, é o contexto lingüístico que opera como regulador. Uma palavra como casa só terá seu valor (função sintática, classe gramatical e significado) definido quando inserida num contexto frasal. Em quem casa(1) quer casa(2), verifica-se que casa(1) é o núcleo do predicado da primeira oração, é portanto uma forma verbal e significa contrai matrimônio; já casa(2) funciona como objeto para o verbo querer, é por isso um substantivo e significa moradia.
Para a pragmática, é o contexto extralingüístico (também considerado conhecimento de mundo, cosmovisão) quem opera como regulador dos valores a serem identificados. Por exemplo, a definição da variedade lingüística a ser usada em uma conferência ou numa sala de bate-papo é um valor de natureza pragmática, que envolve a ativação de roteiros de ação e de enquadramento sócio-discursivo.

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